O sergianismo foi um termo criado por Pierre Logan, utilizado pela
primeira vez em agosto de 2014 em um artigo no site www.panelaspernambuco.com. O
conceito foi criado para estudar o fenômeno da cegueira política da população,
do comportamento calhorda dos políticos eleitos da cidade e da completa falta
de sentido, de argumento e de fundamento nas ações dos governantes do município
de Panelas.
Muitos passaram a usar o termo
“sergianismo” com muita
naturalidade. Alguns têm pavor de serem considerados sergianistas, outros se
orgulham disso abertamente, mas afinal, o que é o sergianismo?
Para entender o que é sergianismo é preciso conhecer um
evento histórico curioso. Em 1578 o
Rei português Dom Sebastião desapareceu no norte da África, na Batalha de
Alcácer-Quibir. Esse fato fez com que se criasse uma história cheia de
misticismo em torno da figura do rei desaparecido. Muitos acreditavam que ele
não havia morrido e que um dia ele iria voltar para salvar o reino. Muita gente
esperou a volta do “desejado”. Ele nunca voltou. Essa espera foi chamada de síndrome do sebastianismo. Durante algum tempo essa história permaneceu viva no povo português e
foi transmitida para o brasileiro e até hoje estamos sempre esperando por um
salvador, alguém que vai salvar a “pátria”, o “time”, “o jogo” etc.
Para a maioria dos brasileiros;
sem o Neymar não se ganha copa, sem o Lula não se tem igualdade ou democracia,
sem o Bolsonaro não existe Brasil. Sempre há necessidade de um salvador. O povo
sempre elege um salvador para, provavelmente, se isentar da responsabilidade
ou, pelo menos, ter alguém para colocar a culpa. Mas, como veremos mais
adiante, alguns não querem um herói, precisam de um vilão para mandar em suas
vidas e assim, da mesma maneira, se isentar da culpa.
Conversando com algumas
pessoas do município, mesmo com pessoas que não se importavam com política,
portanto, não eram do grupo do prefeito (ele ainda era prefeito), eles falavam
de uma tal de predestinação, que Sérgio Miranda nasceu para liderar e que
ninguém jamais ganharia uma eleição. A situação é mais engraçada do que
curiosa, mas não é difícil perceber que isso é um tipo de narrativa disseminada
pelo próprio grupo do prefeito e que, mesmo nunca tendo uma oposição de fato na
cidade, as pessoas não conseguiam mais juntar causa e consequência.
Quando essas pessoas são
interpeladas sobre coisas simples elas ficam completamente perdidas e aparentam
não ter a mínima noção do que elas mesmas falavam, apenas repetem e ficam no
“ouvi dizer”. Esses cidadãos estão esperando um Sérgio Miranda que só existe na
cabeça deles, alguém que nunca chegou e que não vai chegar. O único que existe
foi o que fracionou carne com o intuito de burlar licitação, o que estabeleceu
os contratos ilegais como regra na cidade, o que aparelhou os poderes, o que
tem recorrentemente recomendação de rejeição de contas pelo TCE-PE, o que não
honra compromissos com os professores, não aplica o mínimo em educação, nem em
saúde, em suma; não cumpre a Constituição Federal. São fatos documentados em
processos, não invenção de opositor. Esse é o único Sérgio que existe, mas
poucos conhecem porque para saber disso o cidadão tem que ler os autos e a
maioria dos panelenses, mesmo os formados em curso superior, não são muito
afeitos a leitura.
Depois de conhecer a história
do Dom Sebastião e perceber a incrível semelhança com a mentira existente no
município, bastou o nome do governante “Sérgio” e o acréscimo do sufixo “ismo”
para deixar claro que a referência é a um sistema e não a uma pessoa. Dito
isto, vamos para as principais características do sergianismo:
1 – Caudilho;
2 - Comunismo provinciano;
3 – Aparelhamento dos poderes
municipais;
4 – Desconstrução da cultura
municipal;
5 – Compra de militantes com
contratos na prefeitura;
6 – Centralização do poder na
prefeitura;
7 – Desinformação;
8 – Uso inconsciente da
Espiral do Silêncio;
9 – Populismo;
10 – Ausência de imprensa
livre.
A síndrome do sergianismo nada mais é que a demasiada exposição a um
tipo de coronelismo ‘moderno’ e a aceitação dessa maneira arcaica de fazer
política. Durante muito tempo, a população ficou entregue a esse sistema que
não é novidade e nem exclusividade de Panelas.
Os redutos eleitorais dos
coronéis como Ciro Gomes (Cidade de Sobral no Ceará), Renan Calheiros
(Alagoas), Eduardo Cunha (Itaboraí -RJ) etc., obedecem rigorosamente a esses
aspectos. Política antiga, atrasada, antidemocrática e imbecil. Você deve está
se perguntando: “se é tão comum assim, o que a de Panelas tem de especial?”. A
resposta é: absolutamente nada de especial. Nem nisso o panelense é original. É
a mera repetição da política de caudilho mais comum, tacanha e covarde que
ainda, infelizmente, não foi extirpada da República Federativa do Brasil,
apesar de não caber mais nela.
Em cidades como a nossa ou que
fazem uso desse tipo de atraso, os números são tão confiáveis quanto os de uma
ditadura. Os dados não sujeitos a fiscalização são maquiados e qualquer
auditoria externa, por mais simples que seja, pode verificar isso. A síndrome do sergianismo é, portanto, a oposta
do sebastianismo. Enquanto no sebastianismo há necessidade de um
herói, no sergianismo há necessidade
de um vilão, um coroné, um ditador, um político que vai ficar rico as custas da
população enquanto à chama de carente e diz que está tentando tirar ela da
miséria. É, em outras palavras, construir uma mentira e viver segundo ela,
defendendo, torcendo e achando que depende dessa mentira enquanto ela suga tudo
ao redor, impede o desenvolvimento e enriquece os amigos. Só gente covarde ou
eunucos de opinião própria se orgulham de fazer parte de um coronelismo tão
retrógrado.
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